sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Folhas vazias, vidas em branco ou rabiscadas demais! (Julien Costa)

Remexendo minhas gavetas e arquivos de lembranças mofadas, encontrei um caderno velho cheio de Folhas rasgadas, outras tantas rabiscadas, uma última página amassada, mais em branco, aguardando talvez, ser preenchida de anotações importantes, um texto de significado maior... Isso talvez fosse um sinal, ou fosse um presságio de algo que estava por vir. Aquela última folha me convidava a enchê-la de fragmentos soltos de idéias insanas, ou de banalidades necessárias para nos iludirmos ou exercitar a auto-piedade tão freqüente no ser humano!
Os galos parecem ter medo da escuridão, pois todas as madrugadas eles cantam como se isso fosse apressar a chegada do dia, da luz...
O copo está com pó de café no fundo, talvez porque na hora de coar, tenha transbordado e derramado a borra do café na garrafa... O silêncio é importuno, pois aumenta à solidão, a madrugada é fria, meus pés descalços, estão adormecidos por causa da temperatura do chão...
Sinto uma vontade desesperada de preencher a folha vazia, a cabeça fervilha de pensamentos desordenados, parecem até gritar cada um deles, tentando ser prioridade no primeiro parágrafo que nem foi escrito, um turbilhão de emoções transbordando nas entranhas de minha alma...
Transbordamento... Talvez seja essa a palavra certa para definir a CAPACIDADE QUE O VAZIO TEM DE NOS ENCHER COM O SEU MAIS COMPLETO E ABSOLUTO NADA!
Resolvi folhear novamente as páginas escritas, dessa vez, de forma investigativa, para saber o que o proprietário do caderno pensava, o que escrevia, como escrevia e porque escrevia... Mas isso parecia ser invasivo, violador, mas como? Se o dono daqueles escritos era eu mesmo, o caderno me pertencia, mas à medida que eu ia lendo (investigando) ficava confuso, aqueles escritos não poderiam ser meus, então eu dizia a mim mesmo: “eu não penso assim, eu não escrevo assim, eu não sou isso que leio!”
A investigação parecia querer ser comparativa, e isso era impossível de se fazer naquele instante, aquele caderno tinha 12 de anos de poeira e esquecimento, era o meu passado aqui e agora no presente, no folhear de cada página amarelada e amassada uma nova (re) descoberta! Mas algo me chamou atenção, percebi que a briga de me aceitar no passado, é porque no presente eu não parecia ser tão bom, sereno, sonhador quanto àquele que eu lia, mas aquele era eu, como deixei morrer em mim? Será que ainda existe algo dele em mim hoje, aqui e agora? E como seria eu no futuro olhando os meus escritos desse presente, como me comportaria? Será que me reconheceria? Ou teria vergonha, ou culpa de ter perdido a fé nos outros, se desconfio de mim de ontem, como posso ser um ser sociável hoje? Porque quem desconfia de si mesmo, não pode ser confiável!
Folhear meu passado me deixou confuso e saudosista, tomo um último gole do café insuportavelmente frio... Acendo um cigarro, pego a caneta, diminuo a luz do abajur, coloco o espelho diante da escrivaninha, olho silenciosamente para a última folha do meu caderno velho, olho para minha face refletida na penumbra do quarto, provocada pela meia-luz intimista, quase que um confessionário ou um cofre de segredo protegido que guarda todos os defeitos, apago o cigarro no copo de café, pois o cinzeiro já está cheio, respiro fundo e escrevo em um único parágrafo:
“Busco um sentido para o vazio que sinto, entre um parágrafo, uma vírgula e diante de tantas interrogações, fico perplexo pelo tipo de inspiração que me surge, tão melancólica e deprimente que se torna repetitiva. Qual o significado do que não se pode ser medido ou simplesmente dito? Descobri hoje, vasculhando o meu passado, que não podemos esquecer o que fomos , que devemos ter cuidado com o que somos, para não nos preocuparmos de imaginar demasiadamente no futuro, no que nos tornaremos!”
Não preenchi a folha vazia, como pretendia no início, o que deixei nesse parágrafo, talvez fosse exatamente isso que aquele caderno velho quisesse, apenas me alertar que não é o tempo que muda as pessoas, são as pessoas que mudam com o passar do tempo, com as escolhas que elas fazem...
Bem acho que vou dormir, o sol está nascendo, outra coisa que descobri é que assim como os galos que cantam todas as madrugadas, eu também escrevo para fugir da escuridão!
Amanhã lerei os tantos outros cadernos velhos e sábios...
Maceió, 05h15min da manhã de um novo dia de céu nublado e frio de Agosto...

2 comentários:

Guilherme disse...

É. Esse é Julien...
... Costa.

Ou vc "gosta"... ou "não gosta".

Claro que isso foi apenas pra "forçar a rima"... rss...

Abração, Lu!

Apareça por "SAMSARA". Tem coisa nova lá...

(Talvez, ajude, ou simplesmente... te deixe mais doido ainda... rss...)

Unknown disse...

Eita Lu! As palavras de Julien nos faz reflete muito. parabéns para vcs!